Manifesto do desencanto I

Não é breve o interesse pelo teu sorriso
nem a saudade que sinto dos teus lábios,
menos ainda o que está além de tudo isso
e além dos atos, mesmo que não sábios.

Não é complexo, até por demais simples
que os versos que escrevo dizem o suficiente
e dizem tudo e nada de uma única vez
o que poderia ter existido, o que ficou ausente.

Venha ver o Insular, essa ilha em que vivo
que não permitiu que fosse, que não desejou
que eu fosse simplesmente isso que sou,
enquanto eu batia palmas para tuas rimas.

Ai, e dos olhos eu cantaria rios,
e do pensamento eu criaria novas florestas,
mas, os nossos imensos vazios
viviam olhando da porta as frestas,
a alegria estampada nos rostos alheios.

E você, sempre com medo do que os outros pensariam
enquanto eu, eu via que todos não se importavam, riam
da importância escancarada que lhe davam; pelo fato
de se importar mais com o que diriam por ai, farto
estive da pouca atenção que me era verdadeiramente dada.
E de braços abertos evitei o pouco e abracei o nada, o nada.

Mulher, estive a beira da loucura
mesmo que não lhe dissesse.
E então, procurei qualquer cura
em outro canto, outra prece

numa segunda-feira blues
o céu negro banha o oceano.
Triste, mas em paz, triste
com o que não mais existe.

A mudança. Essa sim é permanente.
Como um amigo certa vez cantou ao ar,
"O nunca, às vezes, falha;
O sempre, sempre".

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