Monólogo dialogado acerca da cerca que nos cerca há cerca de toda existência
Verbos crescem no quintal
(a clorofila intraverbal dos pensamentos)
ecos reproduzem o loop dos carros passando
(a coisa toda, a avenida e seus lamentos)
o céu está com um azul acinzentado
(na rodovia só mais um acidentado)
as árvores parecem sem vida
(há alguém aí?)
os postes brilham mais que as estrelas
(solidão, solidão),
e as placas anunciam momentos felizes
(solidão, solidão).
Silêncios dormem na sala
(no quarto, gemidos abafados)
as bibliotecas estão lotadas de poeira
(um motoqueiro acelera, não sei se a moto acompanha a própria estupidez)
corpos se negam aos prazeres e esperam o céu
(deus e suas ideias estranhas)
e continuam esperando o céu
(oh, seres bizarros)
esperam ainda
(grilos e dois mil anos).
Nossa Sociedade, o caos mais organizado possível
(diga isso aos andarilhos)
Robôs são feitos para recriarem a escravidão
(o pobre paga a conta)
meritocracia é esmola verbal
(um ser no chão, pessoas passando, não é nada não)
e a Sociedade ignora sua própria ignorância
(felizes, como o Bob esponja, ao trabalho)
mais que isso, não nota os equívocos desse meio de viver
(ter mais, ser menos)
no noticiário o televisor indica que Lula é ladrão, agora o Temer
(oras, não veem que não sãos as pessoas, mas sim o capitalismo selvagem?)
depois querem me dizer que o ser humano é sociável
(perante formigas e plantas, somos escória).
Dizem por aí, "é utopia"
(utopia é acreditar que assim está bom)
desprezam o cooperativismo
(trabalho, promoção, diploma, cigarro, carreira, coerção)
desprezam o próprio potencial
(perdoe-me os versos longos)
A vida em si já é uma utopia.
B. F. Skinner - Walden Two, uma sociedade do futuro Poesia escrita pós-leitura do livro em questão. |
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