Os sugadores de escrita
Queria eu que as palavras não tivessem efeito algum, e deixar fluir uma linguagem pobre, sem linhas, vírgulas, rimas ou mesmo sentidos. Queria que o silêncio não fosse sentido. Não tivesse sentido. Não desse conta de calar tão denso. E que a gramática peso algum tivesse, nota alguma soasse e regra alguma existisse.
Hoje me entendo idioma.
Me entendo linguagem, pedra falante.
No mínimo esse axioma.
Essa epopeia quebrada, lua minguante.
Hoje me entendo, ritmo da orquestra social.
E delírio dos mais banais, na doença do desajuste.
Sou língua e verso, sou língua, perverso. E verso per língua.
Sou na boca a palavra dormente no significado que míngua.
E evito a rima que nunca me evita.
Mas comecei esse texto apenas para perder o foco do que estava fazendo.
E eu estava trabalhando, escrevendo. Bem, escrevendo é outra coisa, estava mesmo juntando palavras para uma empresa revisar e me enviar cifras. E bem que podiam pagar bem menos - nem tão menos assim - para um robô qualquer fazer o que faço.
Mas eles não sabem o que querem, então não sabem perguntar. E sem saber fazer perguntas
bem, resposta alguma teriam.
Me pagam para "escrever", sem fé, sem crença, sem desejo.
Me pagam para me enlouquecer, e sinto mesmo que o que querem é o meu desprazer,
querem comprar o que faço melhor sem ter um preço.
Querem aquilo que não sabem o que querem.
Querem é tirar de mim o prazer da escrita.
Pois saibam, estes de sobrenomes vistosos,
saibam que aqui estou, evitando o trabalho de escrever, escrevendo sobre o trabalho.
Cuspo e faço sentir.
Mas já estou voltando para trabalhar.
Só mais uma verso:
pronto.
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