Personagem I - retratos de um pombo
E quantas vezes, olhando para o céu todo cinzento
não quis ser aquele pássaro?
O pombo que analisa o mundo pelo telhado,
parece muito mais civilizado que esse emaranhado
de variáveis a preencher minha solidão.
Tenho me negado a minha própria ilusão
não me parece viável chutar outra vez a pedra
e carrega-la, passo por passo, nessa estrada
longa caminhada em rota circular.
Tenho me negado aquilo que jamais abdiquei
(descrevo-lhe amigo, sinta minha lamúria
escorrendo pelas palavras ocas e secas que ecoam de minha voz),
sou aquilo que neguei? Sou mesmo isso?
O pombo, a decifrar as praças e os meios públicos
e eu, aqui, olhando o céu cinzento, as nuvens
que nem vejo formas. Tempos que ali havia algo.
Sou aquilo que neguei? Sou isso mesmo?
O profeta se alimenta de suas pregações:
anuncia a redenção e diz "arrependei-vos, pois ainda é tempo",
tempo de quê? para que? sou isso?
Jogai-me a primeira pedra, e deixarei cair a fé.
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