A hipótese de gaia. O que será que?
O que será que? O que será que pensará?
Na sombra de pensamentos, na sobra deles,
rodeiam os carnívoros receios, floridos
a chamar a atenção dos passantes. O que será que?
A avenida não tem fim, ela acaba no começo
cada passo um dilema a reconsiderar
a música não tem fim, ela acaba no começo
a canção? Ludovic. "Eu fiz pouco caso de um gênio", é o que tocava.
O que será que?
O suor, gota por gota, escorrendo para lugar algum
Devo eu me evaporar de mim?
Poeira cósmica. Carbono por carbono. E a seleção por consequências
em três níveis (biológico, social e individual) a dependurar
o que nesse exato momento chamo de "eu". Santo Darwin!
Bendito Skinner! Oh, J.A.D. Abib! O céu rosado, a confundir
tons de azul e amarelo. O que será que?
Recuo.
Não há "eu" ali. Sou-me-mundo. Sou mesmo o azul do céu e do mar,
sou o mendigo que passa faminto enquanto outro de mim devora
dólares. Caos é meu nome. O que será que?
E no meio da relação sexual, sou eu próprio a me adentrar, e a dor
que quaisquer sentir, é a dor que sinto.
Recuo.
No fim do percurso, da longa e tão leve caminhada, revelo: não
não sou nada disso. Não há eu. Há nós e nós nessa linha.
O egoísmo é que funda o conceito de eu, o conceito de individualismo.
Não há nada tão delimitado assim. Pois se vivo, o mundo vive,
e se morro, permaneço em movimento no que deixo.
O que será que deixo? A vida não tem fim, ela acaba no começo;
só há então o que houver de relação.
Hipótese de Gaia.
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