Do ontem

 
 
Um tempo atrás, eu me sentia vivo correndo atrás do ônibus das 23h na rua Duque de Caxias, linha 407. Tarde da noite, jovem magrelo, vindo da Etec, sem tempo para diálogos. Os carros e motos na Avenida Francisco Junqueira não pareciam se importar com os pedestres em desespero. Eu corria sorrindo. Se não chegasse a tempo, só depois das 00h para outro ônibus passar. Era um baita desafio. E, não por menos, corria por dois motivos: o primeiro, já descrito, era para não perder o ônibus. O segundo, para não perder o que estivesse carregando ou vestindo, pois ser assaltado sempre foi meu forte.

Em geral, lograva chegar antes do motorista passar desenfreadamente pela antiga e agora renovada Biblioteca Altino Arantes. Via as nuvens, o céu escuro domando a cidade, a Lua (algumas vezes) e aquelas pessoas cansadas retornando para casa. A Biblioteca, cheirando a livro velho mesmo do lado de fora, passava despercebida pela maioria. Em algumas noites, cheguei a conversar com alguns idosos que pegavam aquele ônibus somente por falta do que fazer. Em outras, prosava com o motorista, o tal do Marcelo, piadista nato.

Curiosamente, ainda que minha rotina fosse um tanto voraz, eu me sentia vivo. Acordava às 05h00 e dormia às 01h00. Era uma batalha dos instintos quando chegava em casa: o sono era imenso e a fome, inimiga. Me lembro das vezes em que mastigava a comida de olho fechado e, doutras vezes que fazia o improvável para ter tempo para dormir: tomava banho enquanto jantava e, me recordo que cheguei até a lavar o prato no banho. O dia iniciava tão logo. De manhã a caminhada até o ensino. De tarde, o trabalho no mesmo local. De noite, a caminhada até a Etec. E a correria que vocês já sabem. Fora cursos adicionais, tempo para namoro e uma porrada de coisas. Me sentia vivo.

Mas a motivação desse texto não era a rotina ou o ônibus. Queria apenas me lembrar de alguns momentos da Etec. Bateu uma nostalgia, sabe? Tempos e tempos. Pessoas e pessoas. Me sentia vivo.

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