Versos de classe I



Quanta violência
o brasileiro na aparência
diz não ser racista, diz não ser fascista
mas toda oportunidade que tem, meu bem,
apedreja e exorciza; lá vem, zé povinho,
dizer que político militar é bonzinho,
tá precisando isso aqui de uma revolução
cada operário com uma arma na mão
ao som de Racionais
lutar pelo socialismo e por nossos ideais
sim, tô cansado desse blá-blá-blá de burguês
que fica pregando que pobre aqui não tem vez

longe, perto,
um verso no peito acerto,
a mira do poema
nunca foi problema
o que se enfrenta nesse caos
é o ódio: o dilema.
A raiva ao negro, ao pobre, ao nordestino
parece coisa de cinema
mas vem lá de cima, é real, vem do homem fino
vestido de terno
ao pobre dá esmola
e retira o caderno

tudo, tudo anda assim diferente
os malucos fecham o vidro
finque que andarilho não é gente
minha fé na humanidade se esvaindo 
os problemas do mundo e os merdas sorrindo
na fila do café
pagando seus impostos
bando de mané
o verso, aqui descontrolado
é por ter esses burguês
andando do meu lado
cê não tem noção da raiva que eu sinto
quando rico tem dois pratos na mão
come os dois e deixa o menino faminto

na rua, só quem vai na rua
conhece a realidade
miséria, pobreza dessa sociedade
e você aí na tua
tomando sua cervejinha
tá errado não, mas para pra pensar
você fuma sua erva em paz
se nego faz o mesmo, diz que tem que apanhar
tudo em ti parece tão contraditório
sua vida parece vivida para um auditório
não tem a menor consciência de classe
não deixa a oportunidade passar e quer todo o realce
se liga playboy, mas, é, o que eu espero de ti?
a burguesia é podre, foi na sua cara que eu vi

se liga, acorda pra vida, chega de jornal nacional
não pode ver um playba que já quer pagar pau
o mundo gira gira gira, uma hora tu desce
vê se não esquece
foi eu que te avisei
rico vagabundo, tem a vida de um rei,
mas nem tudo é eterno
quem nega esmola é o homi de terno
não o operário com a cerveja da lata
esse ajuda o outro, mesmo que falta
o pão de cada dia
mas não deixa de fazer o outro sorrir
quer viver em sintonia
com quem
com quem sempre lhe ajudou
posso até subir na vida mas não esqueço do que sou

porque o mal do pobre
que sobe na camada social
é bancar o esnobe
e esquecer seu ideal:

um mundo igualitário
começa com você, otário,
se o outro pede esmola, isso já é humilhação,
vê se dá o dinheiro e não fica de sermão,
tem jovem que parece pastor de igreja evangélica
fica de sei não, fica de migué, e cás ideia cética
suspeitando do sujeito sem nada
não vê no olhar que a pessoa tá cansada
de tanto andar perambulante
só querendo uma sombra
nesse instante.

O papo é prolongado
por isso preste atenção:
se nóis já foi gado
e cresceu, é pra ajudar o povão.

Não pra ficar julgando quem tá no crime
quem cheira, quem bebe ou quem queime o filme,
a vida é só esse mar de circunstâncias
analise o ambiente e  não fique de intolerância,
respeite o bêbado que cai na rua
se não for pra ajudar, fica na tua.

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