O natal
No natal, me reúno com os familiares e só eu que em nada acredito, sei bem
o que estou comemorando.
Comemoro a bebida na taça, a cerveja gelando, a carne assada,
comemoro o meu silêncio, minha prosa vencida, os versos escritos,
os versos que consegui deixar de escrever.
Não vejo o menor sentido na festa de natal tal qual enxergam os católicos,
prefiro assim. Festividade não exige sentido nem motivos. Bebemos
por beber. Comemos por comer. Brigamos por brigar.
E no natal, não vejo causas e consequências. Menos ainda no ano novo,
a festa da virada da folha do calendário, que já não é mais usado em sua forma física.
Brindamos o fato único de estarmos vivos, ainda que mais ou menos.
Pela crença de que amanhã será tudo igual e que não sendo pior, está em prática a utopia.
Brindamos a ausência da ausência, os descontentamentos toscos, os amores que voltam a iludir.
No natal, o aspecto mais curioso: adultos e crianças se confundem e torcem para que seus amigos imaginários, o papai noel ou deus, tragam presentes, físicos ou abstratos.
As idosas compartilham em suas redes sociais mensagens de felicitações para ninguém.
Os ateus que não podem assim se assumir, retornam para a igreja que não pisavam desde a páscoa. Católicos não praticantes, sei.
Os evangélicos se benzem em contradições pois se fartam do alimento e da bebida e, em discurso, discordam de tal prática festiva. Não há aqui nenhum problema.
A contradição é o único aspecto inerente das religiões.
O natal, a data mais importante para se comemorar sem motivos.
Contingência cerimoniosa por puro status quo.
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