toda quimera II
A chuva recorda teus passos. Nunca parou de chover. Sempre foi outubro e sempre foi primavera. Tu és quimera, no sentido figurado. Tu és quimera, no sentido mitológico. Tu és quimera, no sentido incongruente. Tu és quimera, fumaça nos meus pensamentos que nunca param.
O sol recorda teus passos. O calor recorda teus passos. O frio recorda teus passos. O vento recorda teus passos. E eu, invento desculpas e mais desculpas para dizer que são as coisas e os deuses, ou os demônios, que me fazem recordar. É que tento esquecer. E tentar esquecer, o que é? Ninguém esquece quando tenta esquecer.
A culpa, de fato, é de Neruda. Pablito. Aquele que mataram de câncer na ditadura de Pinochet. E que, se vivo estivesse, bradaria, "Allende, Allende". Ou ignoraria tudo que há no mundo, para travar a batalha da vida nos campos da poesia. Nos campos da eterna derrota dos versos. Nos sonetos de amor. A poesia é a práxis do proletário letrado. A poesia é o meio. A poesia é a finalidade. A poesia é a causa. É poiesis. E é pura babaquice pois só faz recordar a dor. A culpa, reafirmo, é de Pablo Neruda. E tenho provas, mas não me culpem se só sei escrever sobre amor em espanhol, mesmo que plagiando na íntegra Neruda:
XLIV:
Sabrás que no te amo y que te amo
puesto que de dos modos es la vida,
la palabra es una ala del silencio
el fuego tiene una mitad de frío
yo te amo para comenzar a amarte,
para recomenzar el infinito
y para no dejar de amarte nunca:
por eso no te amo todavía
te amo y no te amo como si tuviera
em mis manos las llaves de la dicha
y un incierto destino desdichado.
Mi amor tiene dos vidas para amarte.
Por eso te amo cuando no te amo
y por eso te amo cuando te amo"
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