Tringa solitaria

 
Image by claudia martinez from Pixabay
 
 
 
Me deixe só
eu preciso de uma taça de vinho
de uma xícara de café
de um caneco de cerveja
me tornar objeto
me tornar abjeto
monumento de museu
alienado, se possível
me tornar desprezível
fumaça de incenso
sem nenhum aroma
ser o esgoto
a água parada
o chão que todos pisam
o fato nenhum
a poesia de gaveta na gaveta
a poesia de gaveta no lixo
ser não mais humano
mas antes ser somente um bicho
 
me deixe só
mas me deixe contigo
num canto qualquer
que caiba meu silêncio
que caiba minha insensatez
 
me deixe só
mas não me deixe sozinho
eu não irei a nenhum lugar
pois não tenho nenhum caminho
não tenho crenças ou convicções
flutuantes são minhas opiniões
e nem sei se quero opinar, crer
descrer, destituir qualquer verdade,
apontar o dedo e dizer que é mentira
não pretendo ser autor de narrativas
ilusões prontas, herói ou vilão
nem sei se tenho um coração
nem sei se pretendo um dia ter
 
me deixe só
por somente ontem
 

Comentários

Postagens mais visitadas