#Crônica da Semana 05: Carta aos injustiçados professores (Ou, Carta aos desistentes revolucionários)
Muito
é dito sobre a qualidade do ensino e da aprendizagem nas escolas e
universidades desse tapado país. A qualificação dos docentes costuma ser um dos
temas de debate. Quase tudo se resume ao seguinte: os professores de matemática
e física, muito sabem de suas áreas, mas não sabem passar o conteúdo; as
professoras de geografia e história, além de péssima memória, se preocupam com
a decoreba sem método; docentes de língua portuguesa ou prezam demais pela
gramática e pelo vocabulário polido, ou romperam drasticamente com o idioma,
reivindicando o uso popular da coisa; tutores de biologia vegetam em sala de
aula e gostariam mesmo é de lidar com plantas e répteis, e com isso se
acomodam. Isso para citar algumas queixas. Há ainda calorosos debates sobre
salários, aposentadorias e os diferentes espectros do ensino, além de muita
citação de Paulo Freire.
O
assunto de hoje é outro, contudo. Eu, Olavo de Pinheiro, venho deixar meus
agradecimentos aos professores odiados, aos que seguem suas vidas de merda no
método da repetição didática e também para os que se sentam confortavelmente em
suas cadeiras e esperam a ordem divina resolver calar os discentes e
displicentes. Esses e essas são nossos heróis. Os responsáveis pela verdadeira
educação. São os que merecem o aumento salarial e cada centavo de vossas
sofridas magistraturas. Aos insolentes e professores exauridos de ânimo, o meu aplauso.
E
antes que venham me questionar os motivos dessa estranha devoção, vos direi de
modo breve nos próximos dois parágrafos: aqueles professores que a cultura
tanto idolatra, os que se dedicam e planejam suas aulas, estes, apenas fazem
suas obrigações e, ao controlarem cada fio de comportamento dos alunos, bem instruem.
Mas há um erro. Ao ensinarem o que planejam, insistem em colocar no repertório
do cabisbaixo aluno aquilo que, na verdade, o mesmo não se interessa e apenas
aprende para ir bem numa prova ou outra. E mesmo que utilize o conteúdo no
dia-a-dia, é por pura alienação, pois saberá o conteúdo, mas não sabe para que
sabe. Em última instância, o mundo zomba dos marxistas culturais: a alienação,
segundo dizem, só será vencida pela educação; mas, se a educação for planejada pelo
docente, este somente ensina a própria alienação de sua vida na vida do outro.
A educação, por fim, não passará de reificação (Lukács não esperava por essa!),
ou, em português estranho, coisificação.
E
é nesse ponto que entra a magia da displicência, da negligência e do descaso.
Essa trindade, em fato, é também pensada pelo considerado “péssimo professor”.
Vocês achavam que a docente que resolve nada ensinar em sala de aula, fazia
isso sem mais nem menos? Que era por preguiça? Tolos! Há toda uma filosofia
incrível por detrás dessa simplicidade. O tutor que assim age, o faz em nome da
educação e por pura confiança em seus pupilos. Sabe que, nada passar em sala de
aula, ou passar qualquer conteúdo apenas de fachada, permite que o aluno tenha
insights. Sim, o aluno se torna criativo! O professor “ruim” sabe que a
ociosidade na escola é o que torna um mero aluno um aprendiz sagaz. Pois, na
medida em que não há tarefas na sala, o aluno fica proativo, interage socialmente,
estuda por conta o que mais lhe interessa, conhece outras línguas (muitas
outras), pede para tomar uma água mas vai na biblioteca da escola, se envolve
com origamis (alguns até voam), escreve poesias, conhece a anatomia humana, desenvolve
arte rupestre nas carteiras de ensino (superando a mesmice da “natureza morta”)
e tantas outras lições que somente o desleixo de um docente conseguiria para
essa sofrida sociedade.
Termino,
sem citar nomes para não exaltar o ego alheio, deixando meus agradecimentos infindáveis
para meus queridos e queridas docentes que me ensinaram os atalhos da vida,
Att,
Olavo
de Pinheiro
Leia também: Crônica #02
Olavo de Pinheiro? Um parente gimnospérmico do Olavo de Carvalho? Finíssima, a ironia do parágrafo final : "O tutor que assim age, o faz em nome da educação e por pura confiança em seus pupilos. Sabe que, nada passar em sala de aula, ou passar qualquer conteúdo apenas de fachada, permite que o aluno tenha insights. Sim, o aluno se torna criativo! O professor “ruim” sabe que a ociosidade na escola é o que torna um mero aluno um aprendiz sagaz. Pois, na medida em que não há tarefas na sala, o aluno fica proativo, interage socialmente, estuda por conta o que mais lhe interessa, conhece outras línguas (muitas outras), pede para tomar uma água mas vai na biblioteca da escola"
ResponderExcluirEm tempo : a mudança do nome do blog fez aumentar o número de visualizações?
ResponderExcluirOu foi apenas mais um engodo da numerologia?
Talvez alguma outra publicação revele detalhes do Sr. Pinheiro...
ExcluirOlha, foi ironia, mas talvez não.
Quanto ao blog, o número de visitas quase dobrou. Contudo, não sei afirmar se foi por conta da mudança do nome do blog ou se foi por conta da mudança na diversidade de conteúdo. As poesias seguem em baixa, as crônicas em alta. Mas, tanto faz, quase não divulgo a página; serve mais para eu escrever do que para os outros lerem, para ser sincero.