Admirável Fase Poética
Entrei numa nova fase poética
uma fase que a escrita me abandona
que a rima fica seca, desértica,
e que minha prosa vira uma zona
numa orgia de ervas e cafeína.
Entrei numa nova fase, menina,
sei nem o que quero pro agora
mas sei que quero sem demora
qualquer coisa que há.
Entrei numa nova fase poética
a frase que não segue a métrica
a régua que foi pro lixo
escrever o que bem desejo
eis agora o meu nicho.
Entrei numa nova fase poética
abdiquei da bela poesia
agora vou escrever tudo torto
desfigurado de sentido figurado
parem, parem, parem!
ESTOU MENTINDO!
Eu tento a desordem
eu tento!
Mas os hábitos devoram a selvageria e a possibilidade
de me entreter em novos horizontes.
Eu quero a louça lavada. Lavei.
Eu quero a casa limpa. Limpei.
Eu quero a cama arrumada. Arrumei.
Eu quero ser tudo. Serei.
Eu quero ser nada. Nadei
e sigo aqui boiando pelas ondas
que atravesso sem (quase) afogar.
Eu não consigo me permitir errar, acordar com as remelas nos olhos
e assim ficar. O bafo o dia todo, andando de samba-canção, o ralo entupido,
eu não consigo. Sem alarme? Sempre há dois, três alarmes.
Sou o rato.
Sou o experimentador.
Sou a caixa.
Sou a barra.
Sou o som aversivo.
Sou o reforço.
Sou o comportamento.
Valha-me São Pavlov!
Valha-me beato Skinner!
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