Sou eu uma ruptura do meu próprio repertório?
Pequenos cômodos se transformam em mansões
quando a minha voz ecoa cá dentro.
Eu não sei chorar. Me expresso amargo.
E se os versos me saem fácil, é mais uma dessas ilusões cotidianas.
Quantas vezes, no chuveiro, eu gostaria que fossem lágrimas.
Queria gritar, e então não queria mais. Queria rir, meus dentes amarelavam.
Queria odiar todas as canções que me atormentam e cantar, também.
Sou eu uma ruptura do meu próprio repertório? Sou quem?
Um vinil riscado sem muita sonoridade para oferecer? Fui assim?
Mas eu ouvi você repetindo o refrão. Eu ouvi. E você gostava. E gozava.
Mas, convenhamos, há outros discos para você escutar. Muito melhores.
As prateleiras estão cheias para ti. Não se preocupe.
Talvez amanhã eu me encontre falando teu nome
talvez essa noite eu te deseje imensamente, como você sempre quis que eu desejasse.
Mas seria pela tua ausência? Ou seria pela ausência de alguém?
Estar com alguém somente para não estar só, é cruel.
E você também sabe o que quero dizer. Mas e o pavor de ver a própria sombra, te encarando no espelho em um amanhã horripilante?
Então todos vocês fingem! E seguem vossas vidas.
Mas, se eu dissesse que nada senti, a mentira seria enorme.
Amei, por um tempo. Gostei, em outros. Odiei, por dias. Amei, de novo. E então,
fui deixando a rotina levar qualquer imprevisibilidade (você também).
Não há problema nenhum nisto, nem erros, nem acertos.
Por qual motivo haveriam culpados? Heróis? Nada.
Não há nada demais em exigir de si próprio, mudança.
Ainda que machuque a razão, o sentir, o ontem.
Mas querer teu bem, isto sempre.
Para além das frases clichês de séries e filmes estadunidenses.
Ai de mim se eu tentasse me censurar. Ai de mim.
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