Teatro Verbal

 
De repente, uma tristeza me toma. Eu não sei dizer motivos. Não tenho motivos para estar triste. E isso me entristece. Como posso ser feliz enquanto outros morrem em meu nome? Como posso descansar se há outros lá fora, que não conhecem o conceito de moradia? Quem sou eu, quando falo de miséria? Quem sou eu quando escrevo dores alheias? Quem sou eu quando na tua boca o meu nome sopra? Quem sou eu quando na tua boca...




Vai ver eu inventei esse mundo como ele é. Eu criei tudo como está. Vai ver eu sou a entidade máxima de tua oração. Vai ver eu não sou porra nenhuma. Vai ver é tudo uma enorme coincidência. Vai ver não existem causas. Vai ver não existem consequências. É tudo uma enorme progressão de variáveis que se desdobram de um caos e eu, miseravelmente, busco explicações para qualquer poeira que esteja fora de ordem. Vai ver eu sou a ordem. Vai ver eu sou a poeira que esteja fora de ordem.

De repente, a tristeza se vai. E retorna a solidão. O mundo pode estar cheio. Atores e atrizes saltitam ao meu lado. Eu sou apenas um cadáver. 65 quilos de pura abstração. Vai ver eu perdi um quilo e meu texto é impreciso. Vai ver é disto que preciso: ser, precisamente impreciso.


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