Cinco pétalas


Você vem.

Ainda claro o dia
beirando o fim da tarde,
como um beija-flor repousando.

Se aproxima
a noite, mas sem pressa
diferente dos passos nossos.

Ao redor, nenhuma paisagem
permeia o ambiente.
Ruas cheias de crateras e calçadas
pela metade, o ar
de um bairro nobre de pobrezas
soberano de suas decadências.

Inventamos contentes uma desculpa
e uma desculpa contente nos inventa.
Sorrir. Isso basta.

Nós vamos.

Rumo a um quadrangular de 1600 metros
mil e seiscentos metros cabem na poesia.
Rodamos, corremos em busca de lugar nenhum
de coisa alguma, de sonhos,
mil e seiscentos metros de sonhos entardecidos
mil e seiscentos metros de prosa
por volta.

Você vai.

Provavelmente se despe, toma um banho,
pois a Lua está por beijar os prédios
e o relógio aponta que pessoas não são morcegos.
E sua noite segue, contente, de um repousar merecido.

Eu vou.

Me dispo, tosco e ríspido, tomo um banho,
pois a Lua me convida para jogar seu jogo
e escrever poesias banais na madrugada. Evito o relógio.
Quatro mil e quinhentos metros de pura poesia
num dia que se espera seis mil e oitocentos metros de solidão
e respiração ofegante, e monólogos de incentivo.
Me visto, feliz pelo imprevisto.
Abandonemos o péssimo humor por alguns momentos,
pois a Lua me convida para sorrir, e esquecer dos problemas mundanos.

Você vem?

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