#3 TEMPOS DE LEITURA #04: MEDICINA



 Imagem de OpenClipart-Vectors por Pixabay



Recentemente e, por conta da pandemia, estamos vendo e vivenciando alguns dos maiores problemas da Medicina e da área da Saúde, ao menos no Brasil, mas não só: (I) a centralização das ações na figura do "médico", (II) a falta de uma "medicina baseada em evidências", (III) as especializações como impedimentos para ações em equipe.

Falarei dos três tópicos em publicações diferentes. Hoje, o espaço é para a primeira questão, onde tento pensar soluções.

Antes, todo mundo sabe o que faz um médico, né? Em resumo: (1) tira selfie com estetoscópio; (2) usa jaleco em todos os lugares, menos na sala de atendimento; e, (3) toma açaí no horário em que devia estar trabalhando. Agora podemos prosseguir.


O primeiro (I) é bem simples de se entender: a Medicina é uma profissão de gente rica. Gente que gasta dinheiro para se formar e ganhar mais dinheiro. Basicamente. Não há escolas de medicinas para pessoas do povo. Não há participação popular na formação de médicos/as. Nem mesmo cotas em instituições particulares (pelo ProUni) para faculdade de Medicina existem (raras exceções). E Universidades Federais de Medicina, como já escutei por aí, não é lugar para pobre (um dia a burguesada vai pagar a própria língua). Hoje, se forma médico/a o filhinho de papai e de mamãe, gente branca de família que "tradicionalmente" forma médicos, gente que paga para receber o diploma (quando não para comprar uma vaga na faculdade).

Então, sendo breve, a centralização das ações na figura do médico não é por "conhecimento", "mérito" ou "valor" da profissão. É por dar ao rico, ao burguês, autonomia para mandar e desmandar. O médico se acha intocável. Presta um concurso público ali e aqui, trabalha 10h semanais num postinho e outro (quando trabalha) e leva suas dezenas de salários mínimos para casa. Não discute caso com a equipe. Não escuta os profissionais da enfermagem (que costumam ser excelentes profissionais, diga-se de passagem) e de outras áreas. Interrompem atendimentos psicológicos que ocorrem nos hospitais (digo por experiência, essa parte), e tantas outras questões.


A centralização das ações na figura do médico é o sistema de castas na área da saúde. Há médicas/os de excelência? Sim, claro. Mas não se discute regra pela exceção. A maioria, ainda, não quer trabalhar no SUS. Lidar com o povo? Como já escutei também, "não fiz medicina pra lidar com gente assim". O SUS, meus queridxs, é a salvação. Principalmente nos níveis de atenção primária. Mas a galera da Medicina não quer saber de atenção primária e nem de SUS.


Soluções que costumo pensar: (1) criar condições dos não-ricos/as se formarem em Medicina, não basta permitir o acesso à faculdade de Medicina, há de se garantir condições financeiras para o alunx pobre; (2) criar faculdades populares, do povão mesmo, só para o povo e de excelência; (3) forçar os alunos de Medicina a trabalharem no SUS, na atenção primária, e reverterem as diferenças sociais de forma que os alunxs de medicina prestem serviços (pagos, claro) no SUS por bastante tempo (o que além de melhorar a formação com estágios práticos, fornece contato com o povo); (4) rediscutir a relação da Medicina com outras áreas da Saúde e redesenhar as estruturas de atendimento, começando pelo setor público (aliás, acho um absurdo, p. ex., alguém ter que passar num médico, no SUS, para ver se precisa ou não ser encaminhado para Psicoterapia, mesmo quando a pessoa deseja isso. Quem é o médico para dizer que alguém precisa ou não de um psicólogo?). E, por fim, (5), explicar pra essa galera que a Medicina é só mais uma profissão.


Voltamos na próxima publicação para discutirmos a parte II. E você, o que acha? Deixe seu comentário após o sinal. Sinal.






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