3 tempos de leitura #03: Deus e o Estado, de Mikhail Bakunin (1871)

 Imagem de Thomas B. por Pixabay (com edições)


Recentemente terminei de ler o livro "Deus e o Estado", de Mikhail Bakunin. Pensei que uma resenha seria interessante para a sessão "3 tempos de leitura", aqui do blogue. Porém, qualquer resenha da minha parte seria inútil, considerando o conteúdo espetacular da obra. Então, apenas inserindo o tema, Bakunin descreve e analisa como a crença e existência em um "deus" serve para forjar as outras vias de poder na sociedade e, como o discurso idealista e dotado de moral apenas enaltece o que há de pior na humanidade: as tentativas vãs de se esvair das consequências de suas próprias ações.

Ao postular um deus (principalmente o cristão, pois é metafísica final, diferentemente dos deuses que tinham respaldo no alimento, nos elementos da natureza, etc), nos acostumamos a considerar que as desgraças são necessárias para o enaltecimento do espírito. Esquecemo-nos que somos nós as vítimas e feitores da crueldade e da benfeitoria. E o povo, assim segue, dependendo de autoridades, de influenciadores, de poderosos que digam como devemos agir ou pensar. A fé em uma entidade superior remove a fé na humanidade, posterga o pão nosso para o inexistente céu. E, qualquer tentativa de revolta contra o poder, nos condena ao inferno, ao fogo eterno. Bakunin, já em 1871, consegue mostrar que Igreja e Estado caminham juntinhos, um se apoiando no outro e ambos rindo e debochando dos mortais. Aliás, mostra que o Estado não é senão uma outra religião e que, a crença na emancipação humana através do Estado é uma tosca contradição e cegueira. Assim, deixarei aqui algumas frases do livro, que recomendo a leitura (fácil de encontrar na internet):


"Uma vez instalada a divindade, ela foi naturalmente proclamada a causa, a razão, o árbitro e o distribuidor absoluto de todas as coisas: o mundo não foi mais nada, ela foi tudo; e o homem, seu verdadeiro criador, após tê-la tirado do nada sem o saber, ajoelhou-se diante dela, adorou-a e se proclamou sua criatura e seu escravo (...)".

"O cristianismo é precisamente a religião por excelência, porque ele expõe e manifesta, em sua plenitude, a natureza, a própria essência de todo o sistema religioso, que é empobrecimento, a escravização e o aniquilamento da humanidade em proveito da divindade".

"É preciso lembrar quanto e como as religiões embrutecem e corrompem os povos? Elas matam neles a razão, o principal instrumento da emancipação humana e os reduzem à imbecilidade, condição essencial da escravidão. Elas desonram o trabalho
humano e fazem dele sinal e fonte de servidão. Elas matam a noção e o sentimento da justiça humana, fazendo sempre pender a balança para o lado dos patifes triunfantes, objetos privilegiados da graça divina. Elas matam o orgulho e a dignidade humana, protegendo apenas a submissos e os humildes. Elas sufocam no coração dos povos todo sentimento de fraternidade humana, preenchendo-o de
crueldade".

"(...) um senhor, por mais que ele faça e por mais liberal que queira se mostrar, jamais deixa de ser, por isso, um senhor. Sua existência implica necessariamente a escravidão de tudo o que se encontra debaixo dele. Assim, se Deus existisse, só haveria para ele um único meio de servir à liberdade humana; seria o de cessar de
existir".

"O materialismo nega o livre-arbítrio e resulta na constituição da liberdade; o idealismo, em nome da dignidade humana, proclama o livre-arbítrio, e, sobre as ruínas da liberdade, funda a autoridade. O materialismo rejeita o princípio de autoridade porque ele o considera, com razão, como o corolário da animalidade, e que, ao contrário, o triunfo da humanidade, objetivo e sentido principal da história, só é realizável pela liberdade. Numa palavra, vós encontrareis sempre os idealistas em flagrante delito de materialismo prático, enquanto vereis os materialistas buscarem e realizarem as aspirações, os pensamentos mais amplamente ideais".

"Deus aparece, o homem se aniquila; e quanto maior se torna a Divindade, mais a humanidade se torna miserável. Esta é a história de todas as religiões; este é o efeito de todas as inspirações e de todas as legislações divinas. Na história, o nome de Deus é a terrível dava com a qual os homens diversamente inspirados, os grandes gênios, abateram a liberdade, a dignidade, a razão e a prosperidade dos homens".


"É preciso observar que em geral o caráter de todo raciocínio metafísico e teológico é o de procurar explicar um absurdo por outro".




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