3 Tempos de leitura #04: Somente um outro Ferreira (eu) / Madrugada (Gullar)

Imagem de István Mihály por Pixabay

Digo eu:

"Barulhos", diria Gullar,
vozes de dentro
da noite veloz
querendo me estrangular

Diz Ferreira Gullar:

"Do fundo de meu quarto, do fundo
de meu corpo
clandestino
ouço (não vejo) ouço
crescer no osso e no músculo da noite
a noite

a noite ocidental obscenamente acesa
sobre meu país dividido em classes"

Digo eu:

Do raso do meu quarto, do raso
da minha pele
estúpida
sinto (não vejo, não ouço) sinto
diminuir a brutalidade do dia na noite
os chicotes dormem, fingem que dormem
a noite

a noite ocidental é a mesma noite sempre
e eu sou a puta; não gozo dos prazeres, finjo
que está tudo bem, mas a noite acidental
obscenamente acesa, segue, brusca,
sobre meu país dividido em classes.

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